sexta-feira, 6 de março de 2009

A arete do homem de Sunnil

Saudações a todos os “Aquanautas”!

Muito tempo tempo se passou desde a última vez que qualquer coisa foi postada nesse flog, por sinal, mais de um ano. Posso pedir apenas a todos os interessados que por favor me desculpem e tomem em consideração a questão já exposta por nosso caro Maurício no último post sobre o vestibular. Enfim, quando ao tempo perdido muito pouco, ou mesmo nada, pode ser feito, mas o futuro é um livro a ser escrito e assim será escrito, se não com a frequência, ao menos o mais próximo da qualidade e dedicação merecida pelos leitores amigos.

Bom, como já foi dito anteriormente, não convém que AV seja escrita nesse momento, uma história merece antes de mais nada o mínimo de maturidade e reflexão necessárias para se aproximar o máximo de seu desenvolvimento ideal. Assim, reafirma-se, fica esse espaço para contos e reflexões interessantes sobre a história.

Sem mais delongas agora, o que trago é uma reflexão tendo como base uma obra que para o Brunão não deve ser nem um pouco estranha: “Paidéia” de Werner Jaeger. Em sua bem trabalhada obra, o autor analisa a formação do homem grego a partir das obras literárias dos grandes autores da época como Homero, Hesiodo e Platão.

Devemos nos lembrar, que na linha cronológica de Lucânon os homens de Sunnil encontram-se em momento histórico correspondente ao periodo arcaico da Grécia, ou seja, o periodo anterior a formação da pólis, gravado na história e na mitologia como a época dos grandes heróis e de eventos magníficos como a Guerra de Tróia. Entretanto, seguindo uma mentalidade atual torna-se dificil entender os verdadeiros sentimentos por trás do guerreiro grego que davam o combustivel e o motivo para se lançar ao campo de batalha preferindo a vida honrada e curta à longa e prazeirosa, porém sem glória. Pode-se pensar que este combustível seria o patriotismo, o sentimento de competição ou mesmo a pura sanguinolência, mas a única coisa que explica essa força na campo de batalha é um sentimento já morto no mundo ocidental: a arete.

Arete, segundo Jaeger, é uma palavra de difícil tradução por não haver correspondente exata fora do grego, mas poderia ser aproximada na palavra “nobreza”. Trata-se de uma característica complexa que tem a ver com o valor do homem como guerreiro, sua honra, sua virtude e mesmo seu potencial físico algo indispensável para esse homem que, muito mais do que um guerreiro profissional, é um aristocrata cujos direitos e nobreza se justificam pelo tamanho de sua arete.

Guardada as devidas proporções e salvas as diferenças o homem Sunnil não difere muito do grego arcaico. O homem de Sunnil tem sua vida condicionada pelos mesmos fatores que o grego: a submissão ao destino dos deuses, a natureza de competição até mesmo contra o meio árido e opressor, a estrutura aristocrática e, sem dúvida alguma, o mesmo sentimento de nobreza que faz até da morte sem sepulcro uma morte boa se ocorrida no campo batalha defendendo sua honra, a arete.

Mesmo Dargaroth tem suas atitudes influenciada por certos valores de sua origem aristocrática, assim como Khalieen, Rhay e Morthus, podendo ser citada a religiosidade que se reafirma no direito de governar e exercer justiça garantido pelos deuses, da mesma forma que a justiça teria sido concedida aos gregos pelos deuses, o respeito pelo inimigo e sua honra, a valorização da batalha como forma de manter honra e o comedimento, a chamada sofrosine.

Essa última característica, o comedimento, assim como a arete tem um peso interessante na Ilíada de Homero. A passagem que tráz essa mensagem na obra homérica é logo no início, a ira devastadora de Aquiles frente a morte do amante Patroclo o que, segundo Homero, teria sido a causa de sua desgraça. Para os gregos essa desmesura, essa falta de comedimento, também tem um nome, hybris, e para eles se tratava de um dos piores defeitos que alguém poderia ter. Aquiles é, assim, um herói incomum, possui tanto a arete quanto a hybris, sendo sua morte a maneira pela qual homero ensina a virtude do controle sobre as fraquezas humanas. Entretanto, AV também tem seu Aquiles: Rhay.

Rhay veio de uma familia aristocrática de grandes guerreiros, os Arkhan, mas, assim como seu irmão, tem sua arete despedaçada pela humilhação de não poder ter salvo seu reino e sobrevivido para vivenciar essa desgraça, mas enquanto Khalieen vive a vida de paladino, de justiceiro solitário, e mantém seus valores, o príncipe mercenário vê esses princípios se desmacharem enquanto cozinha a cada dia o seu ódio e seu sentimento de vingança, tornando-se tomado pela hybris e pela agressividade. De longe, Rhay não é um herói clássico, um herói ideal, e sim, quase que um mal necessário que deverá sim buscar seus valores perdidos a fim poder concluir sua missão.

Assim, mais do que uma historia de fantasia, de emoção, de ação, a epopéia de Lucânon tem tudo para poder traçar uma segunda luta, além da contra a tirania do império de Dargaroth: a luta pessoal de Khalieen e, principalmente, Rhay para recuperar sua honra e seus valores, podendo enfim se tornar heróis verdadeiros.

E assim caminha Aqua Vallum! Em breve mais algumas divagações.

Fui....

Um comentário:

L G Melo disse...

Então, por favor Thiago, continue com essas divagações! interessantíssimo.